Bahia se prepara para falta de água
Nos
três primeiros meses do ano choveu em Salvador 300,4 milímetros, bem abaixo da
média histórica que é de 431,6 mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet). Contudo, a Empresa Baiana de SAneamento (Embasa)diz que está preparada
para todas as contingências, incluindo o racionamento de água.
Nos
últimos sete anos, a capital baiana e sua região metropolitana têm registrado
chuvas abaixo do normal, o que fez com que este ano, os principais
reservatórios que abastecem de água a população, chegassem a um nível crítico,
o que podem levar a um racionamento.
A
Embasa já trabalha com a possibilidade de ter que adotar o racionamento e
admite que mesmo com as últimas chuvas no final do mês passado e início deste
mês, elas não foram suficientes para repor o volume de água nos mananciais das
barragens de Pedra do Cavalo e Joanes II, que juntos respondem, pela quase
totalidade do abastecimento. Em pedra do Cavalo existe apenas 22,80% do seu
volume útil de água, e em Joanes II, mesmo com a transposição das águas do lago
da Barragem de Santa helena, esse volume é de apenas 8,08%.
Em
um comunicado ao público, o Governo do Estado, através da Embasa, disse que as
chuvas que atingiram Salvador nos últimos dias não alteraram os níveis das
barragens que abastecem a capital e municípios da região metropolitana. Segundo
o comunicado, as chuvas não estão caindo nas regiões onde estão localizados os
principais mananciais. Para recompor o volume de água das barragens, será
preciso que chova forte nos municípios de Camaçari, Mata de São João e Dias
D’Ávila.
A
empresa disse, através de sua assessoria de comunicação, que está preparada
para todas as contingências, incluindo o racionamento de água, mas disse que
por ser o sistema de abastecimento interligado, não pode divulgar de momento
qual o limite mínimo dos reservatórios determinante para se deflagrar o
racionamento, já que, por enquanto estão sendo adotadas as medidas de caráter
emergencial.
Preocupante
No último boletim de monitoramento das barragens na Bahia, divulgado na
segunda-feira pelo Instituto estadual do meio Ambiente (Inema), Pedra do
cavalo, que responde por 60% do abastecimento de Salvador e Região
Metropolitana, estava com 22,80% do seu volume útil de água. Da sua cota mínima
operacional, de 106 metros, chegou a 111,02 metros, o que aproxima
perigosamente do nível limite de captação.
Na
Região metropolitana de Salvador, a Embasa está fazendo a reversão do lago de
Santa Helena para o rio Jacumirim que abastece a barragem de Joanes II, uma das
principais no abastecimento de águia da capital. Foram investidos R$ 2.5
milhões no sistema de bombeamentoque entrou em operação no mês de março e
possibilitou o acréscimo de 4 mil litros por segundo no volume de água no
rio.
A
Embasa também está fazendo a perfuração progressiva de 14 poços no município de
Candeias, com custo estimado em R$ 70 milhões, que proporcionarão o aumento de
mil litros por segundo no volume de água disponível para o sistema.
Essa
obra prevê a implantação de uma adutora de água bruta com extensão de 10,7
quilômetros, além da instalação de cinco equipamentos de bombeamento novos na
estação elevatória de água bruta existente, o que no total tem previsão de
elevar a produção de água em volume equivalente a 50% da atual demanda.
Já
antevendo a continuidade da crise no abastecimento de água em todo o Estado, a
Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento anunciou que ainda este ano
será lançado o edital para o Plano Estadual de Segurança Hídrica, cuja meta é
garantir a infraestrutura necessária para o abastecimento de água para os
próximos 20 anos. O plano inclui estudos de necessidade hídrica por região, e a
elaboração de um planejamento que garantam o fornecimento de água nos 417
municípios baianos.
De
acordo com o plano, o mapeamento dos mananciais hídricos vai embasar decisões
importantes, como a realização de uma transposição de rio ou reversão de fluxo.
E também vai permitir uma visão mais abrangente da região que precisa da
construção de uma barragem, mediante um planejamento que vai ajudar na atuação
do governo de maneira preventiva.
Chuvas
abaixo do normal
A
meteorologista do Inmet na Bahia, Cláudia Valéria, explicou que não se pode
considerar o panorama pluviométrico de Salvador e Região metropolitana com base
apenas nos dados deste e do ano passado. Ela lembra que desde 2011 que
anualmente não chove na média histórica, que é de 2.144 milímetros anuais. Em
2011, último ano de grandes chuvas, chove na capital 2.169,1 mm.
Com
essa tendência de chuvas abaixo do normal na faixa leste do Nordeste brasileiro,
ressalta-se a chance de veranicos (10 dias consecutivos sem chuva). No entanto,
em alguns períodos, há possibilidade de ocorrência de chuvas moderada a forte,
concentradas em poucas horas.
Numa
outra análise, o Centro Nacional de Monitoramento de Acidentes e Desastres
Naturais (Cemaden), indica que até o próximo mês de junho a situação hídrica na
maioria dos reservatórios de abastecimento de água do norte da Região Nordeste
permanecerá extremamente crítica, mesmo que ainda que as chuvas ocorram dentro
da normalidade, caso sejam mantidos os atuais volumes de retirada de água
desses reservatórios.
O
Cemaden diz ainda que o cenário também é crítico para a produção agrícola e
pecuária no decorrer do próximo trimestre, com perspectivas de não reversão das
áreas impactadas pela seca no interior da região semiárida. A avaliação da
recorrência de seca mostrou que ela tem duração ininterrupta de pelo menos 14
meses em áreas do Nordeste da Bahia.
Seca
é a pior dos últimos 100 anos
A
seca no Estado é considerada a pior nos 100 anos e conforme reconhece a própria
Embasa, a situação vem se agravando e tornando cada vez mais crítica a condição
dos mananciais. Para assegurar o abastecimento a médio e longo prazo, o Governo
do estado lançou esta semana o edital de licitação da primeira etapa da
ampliação da captação na barragem de Santa Helena, com recursos orçados em
R$168 milhões.
Na
Bahia a seca já atinge 216 municípios que estão em situação de emergência,
afetando diretamente 4,138 milhões de pessoas e já inviabilizou para a produção
196.7862 propriedades rurais da agricultura familiar. O quadro tem se agravado
na medida em que os principais reservatórios de água em todo o estado vêm
diminuindo de volume, o que tem levado os municípios a adotarem o racionamento
de água.
Em152
municípios baianos o abastecimento de água na zona rural tem sido feito
exclusivamente através de carros-pipas operados por militares do Exército dos
estados de Pernambuco, Sergipe e da Bahia, nas unidades de Salvador (19°BC),
Feira de Santana (35° Batalhão der Infantaria), Paulo Afonso (1ª Companhia de
Infantaria) e Barreiras (4° Batalhão de Engenharia de Construção). Dos 216
municípios em situação de emergência, 75% deles estão sem chuvas há mais de
nove meses e são considerados em situação de extrema gravidade.
Por: Tribuna da Bahia
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